Uma empresa pode sentir inveja de outra? Saiba o que as teorias dizem

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Indivíduos sentem inveja, mas será que empresas também? 

Como se dá esse sentimento com relação a grupos?  E a inveja na empresa?

A interferência da inveja no clima organizacional pode ser analisada em como lidar melhor com esse sentimento dúbio. 

Como assunto já foi tratado no texto “Inveja no trabalho é necessariamente ruim? Saiba como lidar!”, aqui abordaremos mais no sentido de grupo do que no indivíduo.

Entender o papel da inveja na cultura de formação de grupos e populações é fundamental para entender seus conflitos.

Boa leitura! 🙂

Teorias embasadoras: Dissonância cognitiva e Comparação Social

Leon Festinger, teórico da psicologia, cunhou duas importantes teorias em 1954: a dissonância cognitiva e o processo de comparação social.

A dissonância cognitiva é para explicar como as pessoas lidam com o mal estar de expectativas não-confirmadas, as suas consequências psicológicas.

O caso é descrito no livro de 1956 “When Prophecy Fails”. Na época, Festinger e outros pesquisadores leram uma notícia de jornal sobre uma profecia de uma suposta tempestade de proporções catastróficas destruiria o mundo. Era liderada por Dorothy Martin, do grupo religioso “A Irmandade dos Sete Raios”.

Os pesquisadores se infiltraram neste grupo para estudar os sentimentos dissonantes caso a profecia falhasse, para observar de perto o seu comportamento. 

Quando finalmente mostrou-se falsa, o grupo surpreendentemente não abandonou suas crenças. Pelo contrário, buscou explicações para a ausência da sua realização, apegando-se mais ainda às suas ideias originais. 

Para Dorothy Martin, a força ou fé do grupo era tanta que interrompeu o processo de catástrofe, logo foram os verdadeiros salvadores do planeta.

A diferença entre aquilo em que acreditavam vs. a realidade transformou-se na base da teoria da dissonância cognitiva. 

Para aliviar a tensão do descasamento entre as crenças pessoais com o que é de fato real, ideias mais “confortáveis” podem ser buscadas. Ou seja, reforçar uma crença anterior é menos custoso do que simplesmente rompê-la. 

A dissonância cognitiva também é ilustrada em contos infantis como “A Raposa e as Uvas”: a raposa não consegue apanhar um cacho de uvas, fica frustrada e justifica para si mesma: “não queria tanto assim, afinal estão verdes”. 

Este desdenhar é uma resposta para o desconforto sentido, uma justificativa para aliviar sua inabilidade.

Teoria da comparação social

A teoria da comparação social revela que os indivíduos valorizam seu próprio valor pessoal e social em relação aos demais. Há uma explicação pela ótica da psicologia do porquê temos essa tendência. 

É um impulso inato, o qual traduz como os seres humanos avaliam suas ações, opiniões, realizações e habilidades. Na ausência de critérios objetivos, detalha como um indivíduo se compara com os demais. 

Tipos de comparações dos indivíduos em grupo

Há tipos básicos de comparações:

  1. Comparação ascendente: tendência a se comparar a pessoas que se considera superiores 
  1. Comparação descendente: tendência a se comparar a pessoas que se considera inferiores
  1. Comparação lateral:  tendência a se comparar com pessoas no mesmo nível, as quais pensam e agem como você

As comparações tem objetivo de criar referências. Podem influenciar a autoconfiança, motivação e atitude dos indivíduos, logo modificam seu comportamento. 

Os sentimentos negativos como a inveja podem surgir como resultado desse processo, principalmente ao se comparar com indivíduos superiores. Logo, entendê-los para ressignificar em prol da busca do autodesenvolvimento é muito importante. 

Esse processo é contínuo, temos um impulso para constantemente avaliar nossas próprias opiniões e habilidades com relação aos outros. Se um conceito é tido como bom para um indivíduo, mas percebe que o outro é superior, pode acontecer o fenômeno da dissonância cognitiva.

Esse mal estar  leva a dois caminhos: sabotar o outro com ódio, ou reavaliar se essa característica é importante de fato –  se sim, criar formas de melhoria.

As empresas sentem inveja de outras?

Entendemos que indivíduos sentem inveja, mas e as empresas? 

O mais curioso é que os Estados têm inveja, porém as empresas não.

O Estado é um fenômeno milenar na história da humanidade, já a corporação é um fenômeno recente, ocorrido após a Revolução Industrial de 1776. Até então, não havia empresas formais, apenas pequenos produtores domiciliares que fabricavam tecidos e utensílios domésticos para suprir suas necessidades.

O Estado rege a sociedade, imbuída de toda uma cultura. É muito mais complexo do que o ambiente de uma empresa, regulado mais por princípios econômicos. 

Os governos seguem fundamentos como soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e livre iniciativa, pluralismo político, além de princípios como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.  

Nos mecanismos de relações internacionais, os governos se comparam e influenciam sua população. Logo, a cultura de uma população pode conter inveja e desencadear problemas de autopercepção como grupo ou nação, assim como desenvolver o ódio contra outras populações.

inveja na empresa

A Inveja na Sociedade Ociendetal vs. Oriental

As sociedades ocidentais lidam melhor do que as orientais. 

Indivíduos da cultura ocidental têm mais o foco em si mesmos, logo não há incentivo para prestar mais atenção no grupo. 

Nas sociedades orientais, há prevalência do coletivo, por isso há uma repressão da inveja. Este sentimento coloca o indivíduo à frente do grupo, logo é estigmatizado, é quase “proibido” senti-lo. Porém, negar a sua existência gera mais problemas. 

Inveja e justiça social 

Os Estados se comparam o tempo todo um em relação aos outros. A manifestação da inveja serve para guiar inclusive seus interesses de domínio: valoriza-se o seu povo, em detrimento dos outros.

Podem insuflar tanto ódio a ponto de justificar uma invasão nos vizinhos. Desta forma os crimes de guerra tiveram sempre a mesma base: o ódio. Logo, ao desmerecer outros países,  é justificada a guerra, afinal “eles merecem”.  

O conceito de justiça transicional é quando o Estado reconhece seus crimes realizados, assume a culpa perante a todos. O fato de mostrarem arrependimento reforça a confiança da população no próprio governo, há um sentimento de maior pertencimento e transparência, assim como busca por ações reparadoras.

Inveja e ódio entre grupos sociais: exemplo de genocídio em Ruanda

Na formação do Reino de Ruanda, no século XVIII,  havia 03 grupos étnicos:  tútsis, tuás e hútus. Eram povos que se davam bem, casavam entre si, tinham a mesma língua, culturas semelhantes e não havia diferença física. Porém, quando os belgas assumiram a colonização do país a partir da década de 1910, começaram os conflitos entre si.

Os belgas elegeram os tútsis, ou seja, deram mais importância e autoridade para organizarem as cidades. Entre as décadas de 1930 a 1960, desenvolveu-se antipatia por eles nos outros 02 grupos. Criaram motivos para se odiar, tudo o que havia de mal no país era por conta deles. 

Nos anos 90, aconteceu a declaração de massacre aos tútsis em Ruanda:  houve cerca de 800 mil mortes em 100 dias. Isso é um exemplo de como a inveja e ódio podem ser destruidores em culturas de grupos.

Exemplo de Inveja em outros Países 

Cada país lida de maneira singular com a inveja. Há bons exemplos como  a Alemanha, e maus exemplos como Japão e Brasil.

O Estado alemão reconheceu o erro do holocausto na segunda guerra mundial. Reforçou a confiança das pessoas nas suas instituições, assim como seu compromisso com o respeito aos direitos humanos e pela lei da igualdade. 

O Japão lida mal com sua inveja: negam sua responsabilidade nos massacres da segunda guerra mundial, por exemplo. Há uma dificuldade cultural de acessar os erros e pedir reparação.

O Brasil também lida mal com a inveja – olhamos mais para outros países do que para nós mesmos. Contudo, não é um país historicamente bélico com seus vizinhos como o Japão ou Alemanha, responsável por massacres históricos. 

Porém, aqui há questões de racismo estrutural, além do mito da minoria modelo. 

Este último é o ódio contra alguns grupos brasileiros, por exemplo, os descendentes de japoneses. São vistos como “ideais”: são dedicados, estudiosos, logo se destacam em posições importantes na sociedade. Este estereótipo gera uma enorme pressão em brasileiros não-japoneses: nunca há como superá-los, logo compensa-se com ódio, com alguma difamação contra este grupo.

Conclusão

A inveja em grupos é um fenômeno importante a ser estudado, pois reflete no cotidiano das pessoas. O fenômeno da dissonância cognitiva, da comparação social, além dos mecanismos da inveja, são conceitos importantes para dar luz ao problema.

As empresas não “sentem” inveja, mas pessoas e países sim. Lidar bem com a inveja faz parte para o crescimento individual e do grupo, assim como de nações. Buscar o aprimoramento através da percepção do que falta é uma solução necessária para o bem estar como sociedade.

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Imagem: Salú.

Fonte de consulta:

Naruhodo 391: Por que sentimentos inveja?

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